Leitores

instantes de setembro

durmo nas fraldas do equívoco
com os pés vivos e a cabeça morta

no chão
ao lado dos chinelos

epístolas descansam
abraçadas ao tapete

bebendo a dor dos passos vencidos

rebentam trovões no quarto vil

são sinos que ladram e cães que tocam
a sinfonia duma manhã que não quero

ainda não adormeci
e já me acordam

onde está a leiteira

que pão cozeu o padeiro

que horas são

que dia é

que missa me serviram na véspera

que papa-hóstias me amaldiçoou

porque não posso dormir em lençóis de linho
frente à janela que me dê meia-lua
aberta ao som duma harpa de sonho

que me acalme os pés
e desperte a cabeça para o sossego

que trapos me vestem

então que desperto

deitei-me com vinho e sem sono

durmo nos vapores do mal-entendido
porque dormir
é arte
que perdi

ao te deixar acordar sem mim

ferool

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