Leitores

o amálgama do sol

I

apaguem-me este sol impiedoso
ou activem um vento
fausto
forte e frio

desamparadas da graça da natureza

as castanhas assam no castanheiro
com os arroubos do fogaréu

a cigarra há muito desmaiou
é a formiga que canta
no subterrâneo racional

o oceano dorme preguiçosamente

sem a fragrância da ira
é mais manso que um regato

as víboras rendilham nuvens
e os macacos suicidam-se na cachoeira
de encontro ao chão miragem

II

ponham as montanhas no mar
ligadas por istmos
que me levem a viajar
por onde quero

pois não sei nadar

não ouço os sons da sineira
deste lado do mar
apenas ossos que chocalham
e dores dum acordeão

bátegas bondosas festejam de encontro à eira
donzelas de peitos folhosos
que espetam os olhos piedosos no céu

e desprezam o astro de fogo


rei
é o singelo vestido de lousa
que domestica o grilo
no embaraço de cânticos antigos

como as giestas que encantam o burro
nas lendas do sacrifício

III

enviem-me sóis verdes e luas brancas
a noite é tão confusa
quanto a escuridão é reconforto

os lençóis transudam saliva adocicada
de distâncias anais
adormecidas no caruncho do leito

é julho ainda
mas já escuto vestígios de agosto
na roupa do vesgo
e na desenvoltura da sacristia

IV

juninas são as minhas ideias
que apodrecem no mio embriagado
de fogo

peço a Júpiter chuva e pão
marés de peixes voadores
que apetitem a minha escudela

e uma farta courama
que me albergue
até que anunciem

um sol
fresco e carinhoso

sanguíneo ou setentrional

ferool

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