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a canja não tarda

esvoaçam penas na cozinha tosca
onde fumega uma panela num chão de pedra
feito lareira
com paus de castanho e rama de oliveira
que enviam fumo perfumado
para presuntos e enchidos pendurados no telhado

cheira a domingo
a ama traja roupa limpa
e um chapéu de pano sobre o penteado

o pão chega da casa do forno
descansa ao lado da caneca de vinho

os sinos trinaram a missa do dia
e o galo já cessou o canto da viuvez

o varão sai apressado do palheiro

é tempo de matar o bicho

a goela reclama uma golada de bagaço
e um pedaço de bolo com chouriço
antes que desperte a canalhada
e a canja seja servida

é domingo numa casa plural
idos tempos...

ferool

8 comentários:

Unknown disse...

Fernando, gostei do fluir degustativvo, embora seja contra a matança de animais. Mas ficou interessante e com um regionalismo muito bom!

Parabéns!

Mirze

fernando oliveira disse...

Caríssima, quem não é contra a morte de animais, creio que todos, porém, estamos no alto da cadeia evolutiva e esta nos conduz para esta prática. è verdade que se pode fazer poesia a partir de qualquer coisa, acho interessante contar regionalismos na poesia. muitos renomados poetas ficaram famosos apenas explorando este tema.
agradeço a tua leitura e comentário.

abraço

fernando

croqui disse...

estou impressionado.
Muito bom mesmo.
Parabéns

fernando oliveira disse...

Obrigado amigo pela leitura e comentário.

Fernando

Tyrone Ferrara disse...

Isto parece uma refeição domingo para mim! A melhor parte é quando todo mundo se senta à mesa, até o cozinheiro, e goza de uma refeição em conjunto.

fernando oliveira disse...

é verdade amigo, era assim noutros tempos nas aldeias, as refeições tinham um sabor social que hoje talvez não tenham. Os machos ganhadores de pão eram prioritários para saborear as pitanças mesmo que pobres.

abraços

Barbara disse...

Fizeste me retornar a casa da avó que era uma "casa portuguesa com certeza", só que geograficamente situada no Brasil.
Ao lê-lo, senti na memória o calor que jamais sentirei, o acolhimento que hoje dou a mim mesma-na falta de outro.
Foi muito bom passar por aqui.
Obrigada.

fernando oliveira disse...

Barbara, que seja onde estás, ou onde os teus avós estiveram, Brasil ou Portugal, deves ter escutado estas estórias simples de vidas rurais ou semi-rurais, onde a felicidade existia em pouca coisa. neste mundo sofisticado, tenho e outros, saudades destes quadros simples mas cheios de vida.

Pensa em certas coisas dos teus ancestrais e verás que o ar fica mais puro.

abraços

fernando