Leitores

há dias assim - que não assam nada -

era um dia chato no calendário ocidental
uma pedra na canícula

o erro do sol

aquele ponto sem leitura que simboliza a beleza duma estação esquisita

errou

no lugar de esquentar os peitos já crestados por beijos indecentes
que mirravam na procura do olhar infernal

cessou de emitir as mensagens de vaidade

ficaram na areia algumas nonas expulsas do livro sagrado
viradas do avesso rezando um verso particular
pedindo ao pai do azul
um sol ameno
que lhes permitisse sonhar

já não satisfaz
cascatear
o corpo enrodilhado em fitas improváveis e óculos de rã

havia um hiato no grito da criança traquina
que esbagoava nas costas da bendita
um arrazoo indelicado

uma afronta

a acareação entre a galinha e o ovo
depois da aliança parida

havia na mãe de penas
um arruar ímpio
uma chispa
tal bandarilha de ferro velho que trespassava o anjo inconveniente

mas o dia era chato demais
a criança mais bela que o sol

a fêmea ensanduichou o desacordo do dia chato
numa toalha convencional

olhou o sol que não era chato
foram para casa de mãos dadas
chupando o mesmo sorvete

ferool

2 comentários:

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Hoje vim ler estes versos, onde aprecio sua forma ousada de escrever, você prende o leitor do começo ao fim, fazendo ele reler tal o instinto que magnetiza nas palavras poéticas, adorei, fechou meu dia com chave de "ouro ".
Efigênia Coutinho

Frederico Salvo disse...

Aqui uma chuva de palavras desenhando um belo poema, como a canícula que traz outras características belas ao findar do verão.
Sempre muito bom vir até aqui.
Abraço!